raízes sertanejas Rodeio fortalece tradição, movimenta cidades e garante renda para famílias mato-grossenses

Nas regiões mais afastadas dos grandes centros urbanos, a cultura atua como um motor silencioso e poderoso de desenvolvimento econômico e social. Em Mato Grosso, onde as tradições do campo moldam a identidade de boa parte das cidades, festas, cavalgadas e rodeios vão além do entretenimento: representam oportunidades de geração de renda, turismo e fortalecimento da economia local. Pequenos comerciantes, artesãos e prestadores de serviços encontram nesses eventos um alicerce para o sustento familiar, mantendo vivas as raízes sertanejas do estado.

 

De acordo com o empresário Diogo Oliveira, responsável pela empresa Arena Dreams, especializada na organização de rodeios e campeonatos em Mato Grosso, o setor movimenta não apenas o esporte, mas toda a economia das regiões por onde passa. “Cada evento representa um ciclo de oportunidades. Desde os competidores e profissionais contratados até os comerciantes locais, todos ganham com o fortalecimento dessa cultura. Nosso compromisso é garantir que o rodeio continue sendo uma experiência segura, profissional e respeitosa, que valorize os atletas e preserve as tradições do nosso povo”, afirma.

Em 2025, Mato Grosso recebeu etapas de rodeio em 21 cidades, incluindo Nova Xavantina, Santa Rita do Trivelato, Sorriso, Araguaiana, Sinop, Torixoréu, Nova Ubiratã, Guarantã do Norte, Marcelândia, Arenápolis, Vera, Lucas do Rio Verde, Santa Carmem, Cláudia, Feliz Natal, Aripuanã, Tangará da Serra, Cotriguaçu, Diamantino, Cáceres e Mirassol D’Oeste. O circuito estadual se consolida e atrai público crescente, impulsionado pelo movimento nacional do setor. No Brasil, o rodeio movimenta cerca de R$ 10 bilhões e reúne aproximadamente 9 milhões de pessoas por ano, segundo dados da Confederação Nacional de Rodeios (CNAR).

O peão profissional Rafael Lana, 19 anos, herdou da família o gosto pela cultura caipira e a paixão pela montaria. Mesmo jovem, já coleciona títulos e experiências marcantes, como a participação no Festival de Barretos, em São Paulo, e uma passagem de cerca de dois meses nos principais eventos da Flórida, nos Estados Unidos. Ele recorda a infância acompanhando o pai no campo, quando observava os peões se preparando para o espetáculo. Hoje, é ele quem calça as botas e ajusta a espora antes de entrar na arena. “O rodeio é minha vida. Cresci vendo meu pai trabalhar pra gente viver disso, e agora sou eu quem sobe no touro pra honrar nossa história. Levar as raízes jauruenses para o estado, o Brasil e o mundo é muito gratificante”, ressalta.

Arena Dreams

rodeio boi beto projeto

Para que novos campeões tenham oportunidade de avançar na carreira, a Assembleia Legislativa criou o Projeto Olimpus, programa estadual de incentivo ao esporte que passou a incluir os peões de rodeio entre os atletas contemplados. A iniciativa concede bolsas de apoio financeiro a esportistas de diversas modalidades e reconhece o esforço e o impacto social da atividade. “O projeto é uma forma de fazer justiça a quem carrega no corpo e na alma a tradição mato-grossense. Nas cidades que dependem da cultura sertaneja, o incentivo ao peão é incentivo à própria comunidade”, afirma o deputado estadual Alberto Machado (União), o Beto Dois a Um, idealizador do programa.

O avanço da legislação estadual também fortalece a segurança jurídica da cadeia produtiva do rodeio. A Lei nº 11.652/2021 declara cavalgadas, rodeios e práticas equestres como patrimônio cultural imaterial e garante que municípios e governo estadual desenvolvam políticas públicas de proteção e valorização das tradições sertanejas. Defensor da pauta cultural, Beto ressalta que esses marcos legais não apenas reconhecem a história do povo mato-grossense, mas asseguram que as famílias que dependem do evento tenham previsibilidade e apoio para seguir trabalhando.

O impacto econômico do rodeio aparece de forma ainda mais clara em cidades pequenas, onde a presença do poder público é decisiva para estruturar festas e oferecer oportunidades a artistas, comerciantes e trabalhadores informais. Em Mirassol D’Oeste, a empresária Fernanda Albuquerque, proprietária de um restaurante, afirma que os eventos são essenciais para aumentar os ganhos da empresa durante as etapas regionais. “É quando consigo elevar minha renda em quase 30%. A organização antecipada é fundamental, porque para quem tem um comércio de alimentação, planejar compras, fornecedores e contratações temporárias exige preparo”, diz.

A artesã Maria Aparecida da Silva, que vende chapéus e cintos de couro nas etapas regionais, reforça a importância da atuação pública. “Se não fossem as parcerias entre a prefeitura, a Assembleia Legislativa e as organizações de rodeio, eu não teria como expor meu trabalho para tanta gente”, afirma. Para ela, a cultura sertaneja mantém o comércio local ativo mesmo em períodos de baixa safra.

Arena Dreams

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O empresário Joelson Mendes, dono de uma oficina mecânica em Pontes e Lacerda, também sente o impacto direto na economia da cidade. Segundo ele, o rodeio local se tornou um dos eventos mais aguardados pela comunidade. “Quando chega a época da festa, a cidade muda. Pousadas lotam, restaurantes aumentam as vendas e muita gente consegue um trabalho temporário. No meu caso, a procura por reparos e serviços automotiva dispara devido às grandes distâncias entre as cidades do nosso estado”, conta. Para Joelson, políticas públicas de incentivo ao turismo rural e à economia criativa podem ampliar ainda mais o alcance da cultura sertaneja e transformar a realidade de centenas de habitantes do estado.

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