Por que cada pessoa engorda em um lugar diferente? A ciência explica

Algumas pessoas ganham peso primeiro na barriga. Outras notam mudanças nos quadris, nas coxas, nos braços, no rosto ou nas costas, mesmo quando a balança quase não se mexe. Cada corpo parece ter um “ponto preferencial” para acumular gordura, o que sempre despertou curiosidade: afinal, por que isso acontece? A resposta não é simples, mas a ciência já mostra que essa diferença não é um capricho do organismo, e sim o resultado de uma combinação de genética, hormônios, microbiota intestinal, idade e estilo de vida. Em outras palavras, a distribuição de gordura é tão individual quanto uma impressão digital.

Genética: o mapa de onde a gordura se instala

Se imaginarmos o corpo como um território, a gordura teria um mapa de onde prefere se instalar. A genética funciona como a planta desse mapa. Estudos recentes mostram que variantes em genes como FTO, MC4R e PPARG influenciam não só a tendência ao ganho de peso, mas também o padrão de distribuição dessa gordura. Algumas pessoas, por exemplo, já nascem com maior número de adipócitos (as células de gordura) em regiões específicas, como quadris, coxas ou abdômen. Ao longo da vida, quando ganham peso, engordam primeiro justamente nesses locais. É como se o corpo tivesse uma memória metabólica: onde um dia houve gordura, haverá mais facilidade para acumular de novo.

Hormônios: por que o formato do corpo muda

Os hormônios são os engenheiros que modulam essa planta genética. Cada região do corpo responde a eles de forma distinta, como se tivesse receptores mais sensíveis para determinadas substâncias. O estrogênio, por exemplo, favorece o acúmulo de gordura nos quadris e coxas, padrão típico de mulheres em idade fértil. Já a testosterona ajuda a preservar a massa muscular e a limitar o depósito na região abdominal, razão pela qual sua queda gradual com a idade favorece o aumento da gordura visceral nos homens. A insulina, quando elevada de forma crônica, facilita o acúmulo de gordura abdominal, especialmente em pessoas com resistência à insulina. E o cortisol, hormônio do estresse, estimula a deposição na cintura, sobretudo quando há privação de sono, tensão persistente ou padrões alimentares irregulares. Por isso, eventos hormonais como menopausa e andropausa mudam o formato corporal: com a queda do estrogênio, muitas mulheres passam a acumular gordura na barriga; com a queda da testosterona, muitos homens começam a ganhar volume na região central mesmo sem grandes mudanças no estilo de vida.

Além disso, fatores silenciosos, como a microbiota intestinal, também desempenham papel importante. Pessoas com disbiose – um desequilíbrio entre bactérias benéficas e potencialmente prejudiciais – tendem a ter maior permeabilidade intestinal, mais inflamação de baixo grau e pior sensibilidade à insulina, elementos que favorecem justamente o acúmulo de gordura abdominal. A idade acrescenta outra camada a essa equação: puberdade, pós-parto, envelhecimento, menopausa e andropausa são fases de transição hormonal que remodelam continuamente a geografia corporal.

Estilo de vida: o que pode piorar ou melhorar

Mas o estilo de vida ainda é o grande modulador desse desenho. Dormir pouco, viver em constante estresse, passar horas sentado, comer rápido, consumir muito álcool ou ingerir grandes quantidades de açúcares simples são fatores que elevam insulina e cortisol, reforçando padrões já existentes. Mesmo quem tem predisposição genética pode ver seu padrão de acúmulo piorar – ou melhorar – conforme os hábitos.

A boa notícia é que esse padrão não é um destino imutável. Apesar da herança genética, o estilo de vida tem grande capacidade de transformação. Exercícios regulares, especialmente o treino de força, aumentam a massa muscular, melhoram a sensibilidade à insulina e modulam como o corpo usa energia. Uma alimentação rica em proteínas e com poucos açúcares simples reduz picos glicêmicos e favorece uma distribuição de gordura mais saudável. Um sono reparador ajuda a regular o cortisol e os hormônios do apetite. E técnicas de manejo do estresse reduzem a tendência ao acúmulo central.

No fim das contas, engordar mais em uma região do que em outra não é falha pessoal, tampouco “defeito” do corpo. É a expressão de uma biologia altamente individual, moldada por fatores que começam antes mesmo do nascimento e mudam ao longo da vida. Compreender essa lógica ajuda a tirar o peso da culpa, ajustar expectativas e adotar estratégias personalizadas de saúde, mais eficazes, sustentáveis e alinhadas à realidade de cada organismo. O corpo não erra: ele apenas responde ao que a genética escreveu e ao que os hormônios e os hábitos editam todos os dias.

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