Mato Grosso teve 52 mulheres mortas e 87 órfãos

Mato Grosso registrou 52 feminicídios em 2025 — o maior número em cinco anos — num cenário que expõe a ineficácia do sistema de proteção: das 17.810 medidas protetivas expedidas no período, apenas sete estavam ativas para vítimas que foram mortas. O resultado: 87 crianças órfãs de mãe e um Estado que repete o padrão de 2020, quando contabilizou 62 assassinatos de mulheres por motivação de gênero.

Os dados são do Observatório Caliandra, divulgados pelo Ministério Público de Mato Grosso (MPMT), e revelam um ciclo de violência persistente, marcado por falhas na prevenção, descumprimento de medidas protetivas e subnotificação de ocorrências.

Além das sete vítimas que possuíam proteção judicial ativa, o levantamento mostra que apenas 11 mulheres haviam registrado boletim de ocorrência antes de serem assassinadas — evidência de que a maioria das vítimas permaneceu invisível ao sistema até o desfecho fatal.

O balanço inclui ainda o caso da adolescente Emilly Azevedo Sena, de 16 anos, morta em 12 de março. O MPMT denunciou o crime como feminicídio, mas o caso não consta no levantamento oficial da Secretaria de Segurança Pública de Mato Grosso (Sesp-MT), apontando possível divergência entre os números ministeriais e estaduais.

As 87 crianças e adolescentes que perderam suas mães representam um dos impactos mais cruéis da violência doméstica e familiar — um legado de órfãos que evidencia não apenas a perda de vidas, mas a destruição de núcleos familiares inteiros.

Casos que marcaram 2025

Alguns crimes chocaram pela brutalidade, descumprimento de decisões judiciais e exposição pública da violência.

A jovem Jacyra Grampola Gonçalves da Silva, 24 anos, foi assassinada a tiros na tarde do dia 17 de agosto, em um pesqueiro às margens da BR-163, em Sorriso. O principal suspeito é o ex-companheiro, que descumpriu medidas protetivas de urgência. Câmeras de segurança registraram o momento em que ele se aproximou da vítima, simulou a entrega de um presente e sacou a arma, efetuando cerca de seis disparos.

Em Confresa, Regiane Alves da Silva, 29 anos, foi morta a facadas pelo companheiro dentro do próprio estabelecimento comercial, na manhã do dia 30 de janeiro. A vítima estava com a filha de três anos no colo e ao lado da outra, de oito anos.

A fonoaudióloga Ana Paula Abreu Carneiro, de 33 anos, foi assassinada a facadas pelo companheiro em uma residência em Sinop, na manhã do dia 24 de agosto. Após o crime, o autor ligou para familiares da vítima confessando o assassinato e enviou imagens do corpo. Ele foi preso no local em estado de surto psicótico.

O caso de Emilly Azevedo Sena, de 16 anos, grávida de nove meses, gerou comoção nacional. A adolescente desapareceu ao sair de casa, em Várzea Grande, para buscar roupinhas de bebê e foi encontrada morta, enterrada no quintal de uma residência em Cuiabá, no dia 13 de março. A mulher que assassinou a adolescente e tentou roubar a filha dela foi presa.

Em Lucas do Rio Verde, a terapeuta capilar Gleici Keli Geraldo de Souza, 42 anos, foi morta a facadas pelo marido, na manhã do dia 24 de junho. A filha do casal, de oito anos, também foi esfaqueada e ficou em estado grave. Após o ataque, o suspeito tentou tirar a própria vida.

De acordo com os dados do Observatório, as principais motivações dos crimes foram términos de relacionamentos, ciúmes associados ao sentimento de posse e o menosprezo pela condição feminina.
Um ano que termina sem respostas

A retrospectiva de 2025 confirma que Mato Grosso não superou suas falhas estruturais no enfrentamento à violência de gênero. Enquanto o Estado emite milhares de medidas protetivas, mulheres continuam sendo assassinadas — muitas delas sem nunca terem acessado o sistema de proteção. O desafio não é apenas criar mecanismos legais, mas garantir que funcionem antes do desfecho irreversível.
Vítimas de 2025

Entre janeiro e dezembro, perderam a vida em decorrência do feminicídio mulheres de diferentes idades, realidades sociais e regiões do Estado.

As vítimas foram:

• Vitória Camily Carvalho Silva (22).
• Heloysa Maria de Alencastro Souza (16).
• Roseni da Silva Karnoski (52).
• Gleici Oliboni (42).
• Maquiane Brito Arruda (28).
• Vânia Cristina Benini (38).
• Jacyra Grampola Gonçalves da Silva (24).
• Fabiana Cruz Amorim (37).
• Gabriela da Fonseca Moura (36).
• Emilly Azevedo Sena (16).
• Gislaine Ferreira da Silva (33).
• Antonieta Barroso dos Santos (51).
• Jthesica Barbosa (24).
• Ana Paula Abreu Carneiro (33).
• Gabrieli Daniel Sousa de Moraes (31).
• Regiane Alves da Silva (29).
• Júlia Nascimento Barbieri (22).
• Vitória Rodrigues Farias (23).
• Fátima da Silva Barbosa (42).
• Nerbys Osmary Cabrera Kreizi (33).
• Maria Silveira Pereira (63).
• Conceição Almeida Ferreira (50).
• Jucielly Ribeiro (30).
• Paulina Santana (52).
• Yasmin Farias Cardoso (27).
• Maria Selma Rocha dos Anjos (51).
• Quitéria dos Santos Costa (29).
• Vanusa dos Santos (43).
• Tainara Raiane da Silva (21).
• Ivaldete Coutinho de Oliveira Polesello (58).
• Solange Aparecida Sobrinho (52).
• Sabrina Soares da Silva (26).
• Crisalda Conceição Sousa (32).
• Ednamara da Silva Pereira (28).
• Ana Maria dos Santos (63).
• Leovani da Silva de Souza (43).
• Elaine Rosa Araújo (25).
• Rute Cardoso Pereira (27).
• Ketlhyn Vitória de Souza (15).
• Andressa Rodrigues de Oliveira (25).
• Adriana Costa da Silva (33).
• Janaina Carla Portela Santin (43).
• Maria Aparecida Gonçalves da Silva (39).
• Dalila Rodrigues do Nascimento (75).
• Geovana Diogo da Silva (21).
• Luzia da Silva Oliveira (68).
• Maryelly Ferreira Campos (16).
• Andreia Ferreira de Souza (31).
• Ana Beatriz Cruz de Lima (23).
• Edilaine Machado Dias (35).
• Juceli Ribeiro Caju Boa Morte (30)

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