Lula reclama de baixo público em ato do 1º de maio e diz que ‘evento foi mal convocado’

Em um ato organizado pelas centrais sindicais em São Paulo, neste 1º de Maio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou a convocação que levou ao baixo comparecimento do público e tentou baixar a temperatura da crise do governo com o Legislativo. Sem novos anúncios para os trabalhadores, o petista fez acenos ao Congresso Nacional pelos projetos enviados e prometeu novidades para o Dia do Trabalho de 2025.

Lula disse que a cobertura da imprensa “dá a impressão de que tem uma guerra entre o governo e o Congresso”, mas que ele tem uma bancada progressista minoritária na Câmara e que precisou de alianças para governar. O comentário vem após dias difíceis para o governo por causa de pressões do Parlamento — o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem chamado este semestre de “o round mais difícil” de sua pasta.

— Quero fazer um reconhecimento. Fizemos alianças políticas pra governar, e até hoje todos os projetos que nós mandamos para o Congresso foram aprovados de acordo com os interesses que o governo queria. Isso por competência dos ministros e dos deputados que aprenderam a conversar em vez de se odiarem – afirmou.

Em seguida, Lula listou as notícias positivas da economia, com destaque para os 244,3 mil empregos formais criados em março (alta de 25,7% em relação ao mesmo mês do ano passado) — segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados nesta semana pelo Ministério do Trabalho — e apresentou os ministros presentes no palco, sem livrar o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Márcio Macêdo, da cobrança pelo ato esvaziado.

— (Macêdo) é responsável pelo movimento social brasileiro. Não pensem que vai ficar assim. Ontem eu disse para o Márcio que o ato está mal convocado. Não fizemos o esforço necessário para levar a quantidade de gente que era preciso levar — afirmou Lula.

Após cobrar mais “agilidade” do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), Lula elogiou o aliado, que estava presente no palco, ao dizer que “Deus é muito generoso por colocar um companheiro como Alckmin para trabalhar comigo, porque ele tem competência e decência”.

Lula aproveitou o evento para sancionar a lei que amplia a isenção do Imposto de Renda (IR) a quem ganha até dois salários mínimos, ou seja, R$ 2.824 por mês. O projeto havia sido aprovado pelo Senado há duas semanas. E prometeu que isentará aqueles com salário de até R$ 5 mil até o fim de seu mandato, em 2026.

Também estiveram presentes no ato os ministros Luiz Marinho (Trabalho), Márcio Macêdo (Secretaria-Geral da Presidência), Cida Gonçalves (Mulheres), Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação), Silvio Almeida (Direitos Humanos), Anielle Franco (Igualdade Racial) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário). O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) esteve no palanque ao lado de Lula, de quem ouviu um pedido de voto em sua disputa pela prefeitura de São Paulo.

Preocupado com a comunicação do governo, Lula chamou Pimenta ao seu lado, divulgou uma plataforma para informar à população sobre as ações do governo e afirmou que “ninguém que votou na gente pode dizer que não tem informação”.

— Eu quero que vocês aprendam a lição. O Pimenta é quem cuida da comunicação do governo. Ele criou um site chamado ComunicaBR. Se vocês entrarem no site, vocês podem escolher a cidade que quiserem do Brasil e descobrir cada centavo e cada obra que o governo está fazendo em cada uma das quase 6 mil cidades — declarou.

O presidente também mencionou em seu discurso seu veto à desoneração da folha, que abriu uma crise entre o governo e o Congresso. O Senado Federal recorreu da decisão do ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), que na semana passada decidiu suspender a desoneração da folha de pagamento dos 17 setores da economia mais intensivos em mão de obra que empregam 9 milhões de pessoas.

Zanin atendeu a um pedido do governo federal e deu uma decisão liminar (provisória), que está sendo analisada pelo plenário virtual do STF. O julgamento está com o placar de 5 a 0 pela inconstitucionalidade da medida. Um pedido de vista do ministro do STF, Luiz Fux, interrompeu a análise do caso.

— Agora vocês viram que eu vetei o projeto de lei que desonerava 17 setores da economia brasileira. A gente faz desoneração quando o povo pobre ganha. Mas fazer desoneração sem que eles sequer se comprometam a gerar emprego e a dar garantia a quem está trabalhando, eu quero dizer: no nosso país não haverá desoneração para favorecer os mais ricos e sim para favorecer aqueles que trabalham e vivem de salário — declarou Lula.

De acordo com os organizadores do evento, tanto o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), quanto o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), foram convidados para a cerimônia de celebração, mas não compareceram. Ao GLOBO, Nunes explicou que já tinha dois compromissos previamente marcados para a data. Um deles ocorre na Praça do Trabalhador, no Grajaú, e o prefeito diz frequentar todos os anos.

Corintiano, o presidente aproveitou o evento trabalhista, realizado no estacionamento da NeoQuímica Arena, estádio do Corinthians, para visitar as instalações do clube. Lula foi recebido pelo presidente do Corinthians, Augusto Melo, e pelos ex-jogadores Basílio, Vladimir e Zé Maria. Por volta das 11h, ele bateu bola no gramado e foi presenteado com um uniforme do time.

Neste ano, a defesa da companhia estatal de saneamento, a Sabesp, e críticas à agenda de privatizações do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), se destacaram entre as pautas dos manifestantes. Panfletos contra Tarcísio foram distribuídos aos presentes.

Desgaste com as centrais sindicais

Lula chegou ao 1º de Maio deste ano em meio a desgastes recentes do governo com as centrais sindicais, numa divisão que já era perceptível no ano passado.

No início do mês, sindicatos reclamaram após a Central Única dos Trabalhadores (CUT) ter sido a única entidade convidada por Lula para uma reunião na residência oficial da Granja do Torto, em Brasília. Antes desse episódio, sindicalistas vinham se queixando de um maior distanciamento do petista com a classe em seu terceiro mandato.

— A relação já esteve bem melhor. Entendemos que, no início do mandato, as prioridades são outras e há pressões diversas. Mas diminuiu muito o contato com o presidente Lula — diz Miguel Torres, presidente da Força Sindical, segunda maior entidade do país.

Em razão da crescente insatisfação com o governo, algumas lideranças optaram por não participar do evento com Lula, incluindo nomes como o deputado federal Paulinho da Força, vice-presidente do Solidariedade e presidente de honra da Força Sindical, e Luiz Antônio de Medeiros, presidente da Associação Brasileira de Apoio aos Aposentados, que organizou um ato paralelo na Avenida Paulista.

Ao GLOBO, Paulinho da Força disse que o governo fez “muito pouco” para os trabalhadores. Na véspera do feriado, ele antecipava que o ato com o presidente da República seria “esvaziado”, sem a participação do povo e apenas com a “militância”.

Líderes das principais centrais sindicais do país, contudo, minimizam a ausência de Paulinho e Medeiros, argumentando que são casos isolados e não representam uma divisão no grupo.

Em 2023, o cenário encontrado por Lula contrastava com o da última vez em que tinha comparecido ao evento enquanto presidente da República, em 2010. No evento de 14 anos atrás, as comemorações tiveram clima de oba-oba, com apoio à candidatura presidencial de Dilma Rousseff, patrocínio de empresas públicas à celebração e empolgação com os rumos da economia.

Nos três mandatos presidenciais entre os governos Lula 2 e 3, os sindicatos sofreram reveses importantes que ajudaram a enfraquecer o movimento. Na gestão de Michel Temer (2016-18), a reforma trabalhista acabou com a contribuição sindical obrigatória e combaliu financeiramente os sindicatos.

Sob Jair Bolsonaro (2019-22), não houve reajuste do salário mínimo acima da inflação — primeiro governo, desde o Plano Real, a terminar o mandato com salário mínimo valendo menos. Além disso, enfrentaram a crise econômica iniciada na gestão Dilma Rousseff (2011-16), o que levou a um aumento expressivo na taxa de desemprego.

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