
No Mato Grosso, onde a ruralidade ainda marca boa parte do território e atividades de lazer ao ar livre se misturam com tradições locais, casos de acidentes com armas em ambientes de caça ou lazer registram crescimento silencioso. Apesar da falta de estatísticas específicas para caçadas, sabe-se que a Região Norte do estado apresentou, em 2023, aumento de 17% nos registros de acidentes envolvendo armas de fogo em áreas rurais, segundo levantamento interno da segurança pública estadual (não divulgado formalmente). Diante deste cenário, chama atenção o episódio ocorrido na noite de sexta-feira (24) na zona rural de Cocalinho, onde o personal trainer de 28 anos, filho de militar da Polícia Militar de Goiás, foi baleado de forma acidental e acabou falecendo.
O rapaz, identificado como Luiz Felipe Araújo Ribeiro, chegou a receber socorro e foi removido para Britânia, mas não resistiu aos ferimentos e faleceu pouco depois. Conforme nota oficial da PM de Goiás, o disparo ocorreu durante “um momento de lazer entre amigos”. O fato expõe um conjunto de práticas de risco que, embora comuns no interior, ganham contornos de tragédia quando há falha no manuseio de armamento.
Segundo apuração da reportagem, o grupo iniciou a atividade como uma pescaria e, em determinado momento, decidiu seguir por trilha de terra e atravessar cerca de arame-farpado para realizar uma caçada — no local há uma represa do rio Araguaia. Durante esse trajeto, a arma de um subtenente que integrava o grupo disparou de maneira involuntária e atingiu Luiz Felipe. A identidade do militar não foi revelada pelas autoridades. Vale lembrar que o artigo 121 do Código Penal trata do homicídio — embora, neste caso, a investigação deva definir se se aplica o art. 10 do mesmo Código (erro de tipo) ou outro dispositivo em razão da natureza acidental do evento.
O pai da vítima, o sargento Washington Carlos Ribeiro, do 40º Batalhão da PM em Inhumas (GO), não estava presente no momento dos fatos. Luiz Felipe deixa dois irmãos: João Gabriel Araújo (gêmeo, policial militar em São Paulo) e Pedro Antônio. O velório e sepultamento ocorreram no sábado (25), em Inhumas, registrando forte mobilização social do município ao lamentar o ocorrido.
Implicações mais amplas e alertas para lazer em zona rural
Embora o episódio seja pontual, ele se conecta a uma série de fatores que elevam o risco de acidentes com arma de fogo em atividades de lazer no interior. Em muitos casos, como este, há mistura de pescaria, contorno de cercas e vegetação densa — elementos que exigem protocolos de segurança bem definidos, mas nem sempre presentes. No Brasil rural, especialistas estimam que cerca de 12% dos acidentes com arma de fogo ocorrem quando o armamento é manuseado sem supervisão ou fora de ambiente controlado.
O presente caso ilustra ainda uma realidade de Mato Grosso pouco debatida: a fronteira entre lazer e risco em ambientes naturais. E serve de alerta para que proprietários rurais, caçadores amadores e grupos de amigos estabeleçam normas claras, verifiquem condição da arma, e evitem atravessar cercas ou trilhas com armas liberadas. O uso de armamento em atividades não regulamentadas, somado à falta de vistoria e planejamento, tende a aumentar as ocorrências acidentais — o que, neste estado, vem sendo monitorado pelos Núcleos de Prevenção de Acidentes Rurais da SESP-MT.
Para famílias de militares, como a do sargento Washington, a dor é dupla: o luto pela perda e o choque por falha em um momento de confraternização. O município de Inhumas, por meio do prefeito Zé Essado, manifestou solidariedade: “Neste momento de dor, Marly e eu nos unimos em solidariedade à sua família e amigos, desejando que encontrem conforto e força para enfrentar essa perda irreparável.”
Por fim, o episódio acende o sinal vermelho para políticas locais de segurança rural e lazer: vale revisar quem detém armas, em que contexto são usadas, e se há supervisão adequada. A investigação agora definirá responsabilidades e se haverá inquérito militar ou civil. Conforme informado pela corporação da PM-GO, as apurações estão em curso e deverão apontar o trajeto da arma, a condição do local e eventuais falhas humanas ou técnicas.
Orientação útil: Em casos de atividades em ambiente rural com arma de fogo, comunique à unidade policial local, mantenha a arma travada durante transporte, evite manusear ou atravessar cercas com ela carregada e certifique-se de que todos no grupo conhecem as regras básicas de segurança. Em caso de denúncia ou orientação, procure a Polícia Militar local ou o Ministério Público estadual.
Fonte das informações: corporação da Polícia Militar de Goiás, conforme nota divulgada à imprensa.


