‘A reconstrução pode demorar anos’, diz médico de Mariana Michelini, que perdeu lábio depois de aplicar PMMA

Mariana Michelini, modelo e influenciadora digital, viu a sua vida mudar em 2021, após acordar com o queixo e o lábio inchados. O motivo? Uma harmonização facial feita com PMMA (polimetilmetacrilato), popularmente conhecido como acrílico. Após ter seu caso amplamente divulgado, a mulher, de 35 anos, está em busca da reconstrução facial. Em Marie Claire, conversamos com os médicos que cuidam do caso para explicar e alertar sobre o uso da substância e ouvimos o relato da influenciadora

“O meu maior sonho é ter meu rosto de volta, ter vida social”, diz Mariana Michelini, em entrevista com Marie Claire. A história da modelo e influenciadora dominou as redes sociais e os sites de notícias no começo da semana. Aos 35 anos, ela está em processo de reconstrução facial depois de ter feito uma harmonização facial com o uso de pmma sem o seu consentimento. No dia, ela acreditou que o produto injetado pela profissional era ácido hialurônico.

Seis meses depois do procedimento, uma reação do organismo fez com que os seus lábios, em especial, ficassem inchados. “Mesmo fazendo pequenas remoções, a substância estava se movimentando e foi quando descobri que eu precisaria realizar uma cirurgia”, conta. Por esse motivo, Michelini perdeu os lábios.

O caso, que aconteceu em 2021, e se estende até o momento. O dermatologista Dr Carlos Roberto Antônio é especialista em casos com pmma (polimetilmetacrilato, conhecido popularmente por acrílico) e foi o primeiro médico a ter contato com a jovem. O profissional explica que casos como esse costumam aparecer uma vez a cada seis meses e, frequentemente, são graves.

“O PMMA não é a única substância que pode trazer problemas para um paciente, mas são sempre os casos mais difíceis de resolver. A diferença é que as outras, como o hialurônico, são facilmente retiradas e dão errado não pela substância, mas sim pela técnica do profissional e a forma errada de aplicação. Para nós, dermatologistas, o pmma é um verdadeiro vilão. O corpo ataca essa substância e destrói toda a área, assim como foi o caso da Mariana”, explica Carlos.

Mariana Michelini após cirurgia de reconstrução — Foto: Reprodução / InstagramMariana Michelini após cirurgia de reconstrução — Foto: Reprodução / Instagram

 

O Dr Alberto Goldman, cirurgião plástico, que também cuida do caso de Michelini, explica o que é o pmma. “É uma substância sintética, portanto, artificial, e que pode ser utilizada para finalidades estéticas, principalmente em preenchimento na face ou no corpo. É um acrílico, produzido em laboratório, que tem seu uso liberado pela Anvisa para casos muito específicos, como pacientes com HIV+, que apresentam perda de volume. Por ser sintético, é permanente. Então, a não ser que se tente retirar, ele vai permanecer ali durante toda a vida. ‘É diferente do ácido hialurônico, que é temporário.”

A retirada do produto, segundo Goldman, é sempre um desafio. “Essa substância se adere aos tecidos e isso dificulta muito, e existem opções variadas. A primeira é tentar tratar clinicamente e, se não melhorar, temos as opções cirúrgicas, através de uma cirurgia aberta, ou laser, algo que somos pioneiros. Esse laser tenta quebrar o produto rígido em pequenos pedaços, posteriormente aspirados do organismo. Nunca, independente da técnica, se consegue remover todo o produto.”

Antes da cirurgia, Michelini tentou, por 15 meses, fazer a remoção com o Dr Carlos Roberto Antônio. “Nesses meses todos, tentei evitar a cirurgia, até que não teve jeito. Tirei alguns fragmentos, pequenos pedacinhos, até que a cirurgia foi a melhor indicação. Além de tudo, seria a solução para amenizar a dor. Pessoalmente, é muito difícil ver uma mulher perder, aos poucos, a autoestima. Agora a Mari está na fase de reconstrução, que será feita aos poucos, com calma, e pode demorar alguns anos. Depois, eu volto a tratar das cicatrizes dela, o que demora por volta de nove meses até conseguirmos um bom resultado.”

Importante dizer que a reação contra o pmma pode acontecer até 30 anos depois da aplicação. “O procedimento pode ter dado certo hoje e, algum dia depois de 20 ou ainda mais tempo, o seu organismo reagir contra essa substância. É imprevisível”, finalizou o Dr Carlos Roberto Antônio.

“Um bom profissional não omite o material utilizado”

Em entrevista com Marie Claire, Mariana Michelini narra como foi o dia do procedimento. “Fiz o procedimento e lembro que ficou maravilhoso. No dia, ela me disse que o produto usado era ácido hialurônico, substância que o corpo absorve em seis meses, e não comentou comigo sobre possíveis riscos. Fui na confiança. A profissional, no entanto, não me mostrou os produtos usados. Quando cheguei lá, estava tudo pronto na bancada”. A harmonização consistiu em preenchimento nos lábios, no queixo e na região das maçãs do rosto

Dra Karina Barrelo, cirurgiã-dentista especialista em Harmonização Facial, fala sobre como o procedimento é feito. “A Harmonização Facial é um conjunto de procedimentos estéticos que criam uma melhor harmonia entre os elementos do rosto, equilibrar as proporções faciais, diminuir as assimetrias e suavizar os sinais do envelhecimento.”

“A substância mais indicada para esse procedimento é o ácido hialurônico. Além de ser uma substância que é produzida pelo próprio organismo, o que diminui bastante os riscos de alergia, em casos de inflamação existe uma facilidade maior de controle, uma vez que o produto é absorvido pelo organismo. E, em casos de necessidade de remoção do produto, existe uma enzima chamada Hialuronidase, que consegue remover o ácido hialurônico imediatamente da região aplicada”, explica Barrelo.

Mariana Michelini — Foto: Reprodução / InstagramMariana Michelini — Foto: Reprodução / Instagram

 

De acordo com ela, uma dica para evitar problemas com a harmonização é saber, exatamente, o que está sendo aplicado. “Procure um profissional com capacitação e apto para executar o procedimento e que atue em um ambiente adequado e seguro. O paciente também precisa saber a procedência do material que é utilizado. Aqui na clínica as seringas de ácido hialurônico são abertas na presença do paciente e entregue a etiqueta do produto para seu conhecimento.”

O Dr Carlos Roberto Antônio alega que, muitas vezes, o uso do pmma envolve dinheiro, já que o material é mais barato. “Uma ampola de ácido hialurônico, por exemplo, chega a custar R$400. Já o pmma é R$12. A troca acontece por pura ganância, que pode custar a autoestima ou até mesmo a vida da pessoa.”

O relato

Mariana Michelini sempre foi uma mulher vaidosa: gostava de maquiagem e de frequentar a academia, mas era leiga em relação a procedimentos estéticos, principalmente harmonização facial.

Estudante de farmácia, a jovem, de 35 anos, precisou trancar a faculdade assim que a sua mãe morreu, em 2020, no mês de junho e em meio a covid-19. “Nessa época, vi a necessidade de ter uma renda extra, já que moro sozinha e pago aluguel. Então, comecei a investir na carreira de modelo e influenciadora digital. Fazia provador de roupas em lojas e trabalhava com algumas marcas que me pagavam para fazer divulgação. Outras empresas, no entanto, a negociação acontecia por meio de permuta”, contou.

Foi assim que, naquele mesmo ano, ela decidiu fechar uma permuta com uma clínica de harmonização facial. O procedimento foi realizado e Michelini lembra que saiu satisfeita com o resultado final. “Fiz o procedimento e lembro que ficou maravilhoso. No dia, ela me disse que o produto usado era ácido hialurônico, substância que o corpo absorve em seis meses, e não comentou comigo sobre possíveis riscos. Fui na confiança.”

A harmonização consistiu em preenchimento nos lábios, no queixo e na região das maçãs do rosto. “Eu estava radiante, fiquei linda. Consegui ainda mais trabalhos do que antes, incluindo desfile, e divulguei bastante a clínica e a profissional”. O primeiro sinal de que algo estava errado demorou seis meses para aparecer em junho de 2021, quando a jovem acordou com os lábios e o queixo totalmente inchado e dolorido.

A primeira reação foi voltar na profissional que havia realizado o procedimento. “Quando mostrei o que havia acontecido, ela ficou muito nervosa, não sabia o que fazer e pediu opinião de alguns colegas. Eu disse que ia em uma dermatologista e foi nessa hora que ela notou a gravidade do que estava acontecendo.”

Michelini foi encaminhada para uma clínica em São José do Rio Preto, com mais recursos e uma grande equipe. “Cheguei dizendo que era ácido hialurônico e o Dr Carlos Alberto Antônio aplicou a enzima hialuronidase, que dissolve esse produto. O meu pesadelo começou quando notamos que nada havia mudado. Meu mundo desabou, estava desesperada. Ele fez então uma biópsia, além de um mapeamento facial, e foi concluído que tinha pmma no meu rosto.”

“Quando pesquisei no Google, vi casos horríveis, até mesmo envolvendo morte. Em casa, comecei a chorar. Achei que morreria. Sabendo que fui enganada, o médico aceitou me ajudar por um ano para conter o inchaço e dor que eu sentia todos os dias”, continua Mariana Michelini, que processou a profissional que realizou a harmonização, mas acabou proibida de falar sobre ela nas redes sociais.

“Comecei a usar as redes sociais para mostrar o que tinha acontecido e como eu estava e, mesmo sem citar nomes, ela me processou. Não posso falar nome, nem profissão. Todo o processo está em andamento na justiça e ela saiu da cidade, fugiu”, alega.

Em 2022, Michelini teve outra notícia ruim. Ao sentir uma dor forte no buço, ela descobriu que o PMMA estava “migrando”. “Mesmo fazendo pequenas remoções, a substância estava se movimentando e foi quando descobri que eu precisaria realizar uma cirurgia. Encontrei em Porto Alegre de Alberto Goldman, referência na retirada de PMMA, e ele topou me ajudar.”

Com ajuda dos seguidores nas redes sociais, ela conseguiu chegar ao local e descobriu que poderia perder a parte superior do lábio. “Mesmo sem conseguir me encarar direito no espelho, me senti aliviada. A dor que passei durante um ano havia acabado. Apesar disso, por vergonha, sempre ando de máscara, mesmo que as pessoas saibam o que aconteceu comigo.”

Assim que se sentiu mais confiante, Michelini decidiu expor o seu caso no Youtube. Ela abriu um canal para contar a sua história e foi através de uma seguidora que conheceu o Dr Raulino Brasil, de Florianópolis, em 2023. O cirurgião maxilofacial é, atualmente, o responsável pelo seu processo de reconstrução.

“Em dezembro, fizemos a primeira etapa. Será tudo assim, em etapas, de pouco em pouco. Nessa primeira cirurgia, precisei ficar 20 dias com a boca costurada, tomando apenas líquidos pela lateral. Agora, tenho o meio da boca. A próxima etapa será nas laterais e acontecerá em alguns meses”, fala.

Para ela, falar sobre o assunto publicamente foi um ato de coragem e uma atitude necessária para que ela conseguisse chegar até aqui. “Mostro a minha garra, minha força e a minha fé. E não existe outra opção, preciso ser forte. O que me mantém de pé é a minha fé. Hoje, o meu maior sonho é ter meu rosto de volta, ter vida social, conseguir sair. Quero me sentir linda novamente e voltar a fotografar, algo que eu amava.”

 

Compartilhar

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Telegram
Imprimir

últimas Notícias

Angélica agradece aniversário de 50 anos

Angélica foi às redes sociais, no último domingo, agradecer seus amigos, família e fãs pelo seu aniversário de 50 anos. A apresentadora revelou ter aproveitado bastante