Janeiro é um mês em que muitas promessas são feitas: voltar a praticar exercício físico, fazer dieta, passar mais tempo com a família, economizar dinheiro ou procurar um emprego melhor são alguns dos objetivos que costumam entrar (ou voltar!) em pauta. Não raro as novas metas, aparentemente “inocentes”, terminam por aumentar a ansiedade, gerando stress e outros efeitos danosos, impactando diretamente as emoções. Neste sentido, o Laço Branco abre o calendário de saúde, para ressaltar a importância da saúde mental.
Instituída no Brasil em 2014, a campanha Janeiro Branco reforça o cuidado com doenças psíquicas, como a depressão. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), quase um bilhão de pessoas no mundo vive com algum tipo de transtorno mental. No bate papo a seguir, a psicóloga e especialista em Psicanálise e Saúde Mental da Oncomed-MT, Camila Nunes Mendes (CRP 03080), esclarece dúvidas sobre o tema e reforça a importância do cuidado mental para pacientes diagnosticados com câncer.
Comunicação Oncomed: O que é o Janeiro Branco? Qual a sua importância?
Dra. Camila Nunes Mendes: O “Janeiro Branco” é uma campanha criada com o objetivo de chamar atenção para os cuidados associados à saúde mental. O foco da campanha é a conscientização da população, que não deve buscar cuidados apenas neste mês, mas durante todo o ano. Além disso, ela propicia que se quebrem tabus associados ao acompanhamento de psicólogos e psiquiatras.
C.O: Quais sinais e sintomas podem servir como alerta para possíveis doenças psicológicas?
C.N.M: Depende do transtorno mental, mas em geral são sinais de alerta os sentimentos de tristeza constante, preocupação ou medo desmedido, falta de vontade de fazer coisas que gostava anteriormente, como sair e participar de reuniões familiares e amigos, deixar de exercer práticas de autocuidado, sentimentos de desmotivação, procrastinação excessiva, mudanças de hábitos de sono e de alimentação, dificuldade de concentração, pensamentos confusos, uso excessivo de substâncias como álcool ou drogas, pensamentos e ideações suicidas, entre outros. Os sinais também podem se manifestar de forma física, como cansaço excessivo, alergias, dificuldades gastrointestinais, náuseas, falta de apetite e insônia.
C.O: Há alguma forma de prevenir problemas com a saúde mental?
C.N.M: A prevenção envolve cuidados integrais e perpassa, inclusive, pelo acesso a boas condições de moradia, saúde e educação. Também envolve práticas como psicoterapia, que irá auxiliar a pessoa a se conhecer melhor e entender suas ações e escolhas. Também são importantes aliados os exercícios físicos, meditação, e alimentação balanceada.
C.O: Quais doenças e transtornos mentais são mais incidentes no Brasil? Eles têm cura?
C.N.M: Ansiedade e a depressão. As pessoas podem se curar de episódios de ansiedade ou de depressão, e nunca mais voltar a apresentá-los, porém não falamos em cura definitiva. Quem já foi acometido por um desses transtornos estará mais propenso a novos episódios no decorrer da vida, por isso é fundamental o acompanhamento de profissionais capacitados para auxiliar este paciente, como médicos e psicólogos.
C.O: Em que momento uma pessoa deve procurar um psicólogo?
C.N.M: Em qualquer momento da vida o acompanhamento psicológico pode trazer benefícios, mesmo para quem ainda não identifique que está em sofrimento emocional.
C.O: Sabemos que o diagnóstico é um dos momentos mais difíceis enfrentados por uma pessoa com câncer. Como é possível amenizar os impactos psicológicos neste momento?
C.N.M: Com suporte familiar, psicológico, social e religioso. Um paciente com uma boa rede de apoio consegue lidar melhor com o adoecimento e tem melhores respostas ao tratamento oncológico.
C.O: Qual a importância de o paciente oncológico também fazer o acompanhamento com um psicólogo? Quando ele deve ser iniciado?
C.N.M: O psicólogo irá acolher as questões emocionais do paciente, além de auxiliar na elaboração do adoecimento e do tratamento. Ele fornece o espaço para que o paciente possa falar sobre seus medos, angústias, dúvidas e reflexões de maneira sigilosa e com suporte profissional. O ideal é que este acompanhamento seja iniciado o mais breve possível, até mesmo antes da finalização do processo de diagnóstico, quando o paciente ainda está investigando alguma suspeita de câncer.
C.O: Qual o papel do acompanhamento psicológico no tratamento do câncer?
C.N.M: O acompanhamento psicológico é complementar ao tratamento médico nos casos de câncer ou de quaisquer outras doenças. A literatura atual constata que a condição emocional do paciente oncológico influencia na adesão e na resposta ao tratamento.
C.O: Qual a mensagem a senhora deixa para nossos leitores neste Janeiro Branco?
C.N.M: Aproveitem este início de ano, de novo ciclo, para cuidar da saúde mental. Os últimos anos foram de muitas mudanças, principalmente em decorrência da pandemia da COVID-19, e para muitas pessoas elas acarretaram prejuízos à saúde mental. Buscar cuidados psicológicos é uma atitude extremamente benéfica, que se reflete, também, na saúde física.
Diretor técnico responsável: Marcelo Benedito Mansur Bumlai CRM-MT 2663