‘Ritmos Digoreste’ celebra o ‘Dia do Lambadão’ com espetáculo e homenagens

 

Há exatos 67 anos nascia em Poconé (MT) Francisco da Guia Souza, que mais tarde, após dedicar-se ao garimpo, viraria o “Rei do Lambadão” Chico Gil. Em homenagem a esta icônica figura da música mato-grossense o 10 de setembro seria dedicado ao ritmo. Para celebrar, nesta terça-feira será apresentado o espetáculo “Ritmos Digoreste” no Teatro Cerrado
Zulmira Canavarros, seguido de entrega de homenagens com o Prêmio Jaime de Queiroz, outro importante expoente dessa cultura popular. A entrada é gratuita.Realizado pelo Instituto Digoreste, o espetáculo terá a participação do grupo de dança Lambadeiros de Elite e banda, que mostrará aos espectadores os principais passos do Lambadão e suas vertentes. Será um show coreográfico didático e
cultural, onde a história do ritmo e da dança que hoje marcam as noites da Grande Cuiabá é contada da melhor maneira.

Junto ao grupo, mostrando uma ampla variedade de técnicas autorais, estará o professor Vlademir Reis. Presidente do Instituto Digoreste, ele ressalta que a noite, com a concessão do prêmio, trará visibilidade para um personagem especial, que é Jaime de Queiroz. “É um evento idealizado para valorizar nossa história, memória e, também, para lembrar que o lambadão está no DNA mato-grossense. Uma manifestação da cultura popular, que tem grande impacto cultural e econômico. O lambadão não é apenas um ritmo musical, mas especialmente, um símbolo de resistência. E há uma grande rede formada por produtores, comerciantes, músicos e dançarinos que mantém sua sobrevivência a partir dessa manifestação artística”, reconhece Vlademir.No dia em que também é celebrado nascimento de um dos maiores expoentes do ritmo, Chico Gil, Vlademir aproveita para trazer à luz um personagem importante para o desenvolvimento da dança. Nascido em 13 de maio de 1957, em Rondonópolis, o pedreiro Jaime Queiroz de Matos chegou em Cuiabá à ocasião da explosão do ritmo na Capital. Dos grandes entusiastas do movimento, ele desenvolveu a base do estilo e se tornou professor de dança.“Ensinava por amor e em 1998 montou o primeiro grupo de dança do estilo, o grupo Reboledance, cujo sonho era levar o ritmo do lambadão mundo afora. Infelizmente, assim como Chico Gil, o perdemos em um acidente”, lamenta, lembrando que Jaime morreu em 3 de novembro de 2020.

“Jaime era reconhecido pelos grupos de dança como ‘pai do lambadão’. Ele incentivava os dançarinos e grupos de dança a
não deixar nossa cultura morrer. Eu sou uma dessas pessoas que aprendeu muito com ele”, conta. Logo, Vlademir tornou-se também um dos expoentes da dança do lambadão, tendo ensinado mais de 1.500 mil e quinhentas pessoas em suas aulas
presenciais. Fora isso, tem aulas online disponíveis no canal oficial do Lambadeiros de Elite no YouTube. “O legado de Jaime foi mantido”, garante o professor.O Instituto Digoreste é uma entidade sem fins lucrativos que atua desde 2019 em projetos sociais de Cuiabá, oferecendo atividades culturais, educacionais e de lazer para crianças, jovens e adultos da comunidade. Com apoio da Assembleia
Legislativa de Mato Grosso, Assembleia Social e da Associação Mato-grossense de Cultura, o evento destaca a importância da arte como um canal de expressão e fortalecimento dos laços comunitários.O lambadãoDe acordo com estudiosos, o Lambadão surgiu entre o final da década de 1980 e início dos anos 1990, em cidades como Poconé e Rosário Oeste, espalhando-se rapidamente para Cuiabá e Várzea Grande e ganhando repercussão nacional. O
ritmo seria um hibridismo da lambada paraense com o regional rasqueado e o carimbó.O jornalista e documentarista Dewis Caldas em sua monografia sobre o tema explica que a lambada era muito popular entre os garimpeiros que buscavam fortuna no Pará e, com a escassez de ouro por lá, muitos deles vieram para Mato Grosso
tentar a sorte, estabelecendo-se em cidades como Poconé, Rosário Oeste e Várzea Grande.Entre esses garimpeiros poconeanos estava Chico Gil, falecido em 30 de julho de 2000, que se tornou o “Rei do Lambadão”. Foi ele quem popularizou o ritmo, que passou a ser amplamente utilizado por artistas e bandas a partir de então, alguns deles hoje com mais de 30 anos de carreira.

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