Piadas sobre mulheres no volante são frequentes desde que elas começaram a dirigir e conquistar ainda mais sua independência. Na semana do dia 8 de março, conversou com duas motoristas que romperam as barreiras para fazer o que amam, atrás do volante.
Como esperado, elas também falam sobre o machismo que sofrem por serem motoristas de aplicativo e de transporte coletivo.
Alexandra Rocha Costa, 51, trabalha como motorista de aplicativo há mais de 5 anos. Ela tinha um comércio de roupas, mas após prejuízos e com a piora da situação na pandemia, viu nos aplicativos de corrida a chance de ganhar dinheiro.
“Eu tinha uma loja de roupas e durante a pandemia as vendas caíram muito, e ela já estava me dando prejuízo. Foi quando eu decidi fazer corridas pelo aplicativo e estou no ramo desde então. Já vou fazer 6 anos rodando, e para mim é muito tranquilo”.
Ela conta que depois que a Uber Moto ganhou popularidade na cidade, os lucros caíram, mas ela não desiste de trabalhar com isso, porque nunca teve problemas.
“Quando pegamos passageiras mulheres, elas sempre falam que ficam mais tranquilas por estar em um carro dirigido por mulheres. Mas eu não vejo problema algum de levar homens, principalmente porque não trabalho muito de madrugada”.
Alexandra relata que não esquece uma situação que ocorreu com ela dois anos atrás, em um episódio com um homem que se sentiu no direito de ser machista com ela.
“Teve um cara que me fechou e eu buzinei, ele abaixou o vidro e falou ‘ei o seu lugar não é atrás do volante, é lá no fogão, você esqueceu a panela com água’, então ele quis dizer que nós não podemos ficar atrás do volante, e que nós devemos estar atrás do fogão, então eu fiquei com mais vontade de mostrar que não é assim que funciona. Eles acham que a gente tem que peitar eles no trânsito, como se fosse uma competição”
Já Alizângela de Souza, 44, ou motorista ‘Morena’, como ela é conhecida, trabalha como motorista de ônibus há 14 anos. Ela começou como cobradora, mas quando a classe começou a chegar ao fim, ela sentiu o desejo de atuar como condutora, fez aulas e hoje é conhecida por muitos motoristas e usuários da linha 330 e C01.
“Como a profissão de cobrador iria acabar, a própria empresa que eu trabalhava fornecia aulas gratuitas para me tornar motorista de ônibus. Depois disso, a gente faz aula de manobrista de ônibus, para só um ano depois me tornar motorista efetivamente”.
Ela conta que foi vendo os colegas de trabalho serem motoristas de ônibus e surgiu nela um sonho de seguir na profissão. “Como todos que trabalhavam comigo sabiam do meu sonho de ser motorista, eles ficaram muito felizes quando eu consegui tirar minha carteira”, conta.
Assim como Alexandra, Alizângela conta que o machismo ainda é algo muito enraizado quando o assunto é mulher no volante, mas que ela não deixa isso atrapalhar a carreira dela.
“Normalmente a gente vê algum passageiro fazendo alguma piadinha, de preconceito mesmo. Mas teve uma vez que eu estava trafegando em uma avenida, quando um carro pediu passagem para entrar, aí quando ele já estava terminando a travessia eu saí com o carro, ai ele parou e buzinou bravo pra mim, achando que eu ia fechar ele. E na sequência o motorista parou em um mercado e ficou acenando pra mim, mostrando dedo, e parando o carro na minha frente. Ai eu tirei o carro e fui embora. Tempo depois eu já estava no CPA4 quando ele veio e atravessou o carro na minha frente, impedindo que eu passasse com o ônibus. Ele desceu do carro e veio me xingando falando que fechei ele e disse ‘e você é mulher’, como se só por eu ser mulher não pudesse dirigir o coletivo”, finalizou.