O Brasil se destaca como um país com uma extraordinária diversidade de frutas. Isso não apenas enriquece a dieta, mas também proporciona benefícios para a saúde, auxiliando na prevenção de diversas doenças e promovendo o bem-estar geral.
Inclusive, um estudo recente feito pelo departamento de Nutrição e Saúde da Universidade Federal da Paraíba avaliou a influência das frutas nativas brasileiras e seus subprodutos na microbiota intestinal humana e seu papel potencial na mitigação de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) com base na literatura científica atual.
“As frutas nativas brasileiras, originárias de diversos biomas, são ricas em compostos bioativos, e seu processamento permite não apenas o consumo in natura, mas também produz subprodutos ricos em elementos valiosos como os fenólicos, proporcionando benefícios substanciais à saúde”, explica a nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).
“Estamos falando do açaí, acerola, goiaba, jabuticaba, baru, buriti, juçara e maracujá. Inclui-las na dieta melhora o aporte de nutrientes antioxidantes e compostos anti-inflamatórios, muitos dos quais fundamentais para a prevenção de doenças crônicas não transmissíveis como hipertensão, obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e câncer”, acrescenta.
Desequilíbrios na microbiota intestinal
O desenvolvimento das doenças crônicas não transmissíveis está ligado a fatores de estilo de vida, como a má alimentação, a inatividade e o consumo de tabaco. Cada vez mais, a investigação enfatiza a relação entre as DCNT (doenças crônicas não transmissíveis) e os desequilíbrios na microbiota intestinal.
“A obesidade induz inflamação crônica e ameaças cardiovasculares, a dislipidemia interfere no metabolismo lipídico, aumentando o risco de doenças cardíacas, e o diabetes, marcado por hiperglicemia contínua, prejudica as células endoteliais. Todas estas condições partilham laços com desequilíbrios da microbiota, que não só influenciam o aparecimento de doenças crônicas não transmissíveis, mas também afetam significativamente a saúde intestinal e o bem-estar geral”, diz a Dra. Marcella.
A médica explica que variações na microbiota podem perturbar o equilíbrio intestinal, levando a doenças intestinais e sistêmicas. “A nutrição é essencial no tratamento das DCNT, e os probióticos e os compostos bioativos dos alimentos podem modular a microbiota intestinal para promover a saúde. Os ácidos graxos de cadeia curta de uma dieta saudável melhoram vários processos fisiológicos, apoiando a saúde sistêmica”, explica a médica.
Frutas nativas brasileiras e benefícios para a saúde
Os autores investigaram diversos estudos sobre frutas nativas brasileiras. A pesquisa visou analisar como açaí, acerola, goiaba, jabuticaba, baru, buriti, juçara e maracujá são abundantes em componentes bioativos.
“Esses componentes podem influenciar a microbiota intestinal, oferecendo benefícios como atividades anti-inflamatórias e antioxidantes, melhora da sensibilidade à insulina e controle da dislipidemia. Essas frutas contêm fibras dietéticas essenciais que auxiliam na absorção de lipídios e carboidratos, melhoram a motilidade intestinal e ajudam a reduzir a ingestão de alimentos. Ricas em compostos fenólicos, essas frutas possuem propriedades anti-inflamatórias, antimicrobianas e antioxidantes e podem estimular bactérias benéficas no intestino”, enfatiza a médica.
A seguir, veja as oito frutas que estão no estudo e como elas contribuem para a saúde!
1. Açaí
O açaí, de origem indígena da Amazônia, contém antocianinas, que influenciam a fermentação colônica, segundo o estudo. “Flavonoides chamados antocianinas, responsáveis por sua coloração, com grande poder antioxidante, são compostos bioativos que conferem funcionalidade ao alimento. […] Os compostos fenólicos do açaí têm efeitos antioxidantes que protegem o DNA”, diz a médica.
Além disso, um extrato de açaí rico em antocianinas demonstrou sua eficácia no tratamento de problemas relacionados à obesidade em ratos. Ensaios clínicos com indivíduos com sobrepeso consumindo açaí mostraram redução dos indicadores de estresse oxidativo. A médica ainda lembra que a polpa de açaí é rica em cálcio e potássio, importantes para várias funções metabólicas.
2. Acerola
A acerola, uma fruta tropical cultivada no Brasil, afeta positivamente o crescimento probiótico. A pesquisa mostra que o subproduto da acerola aumenta o crescimento de certos probióticos e leva ao consumo de carboidratos pelo organismo.
“Isso reduz o pH e aumenta a produção de vários ácidos orgânicos. Além disso, a fermentação do subproduto da acerola modifica a composição das bactérias intestinais, promovendo metabólitos relacionados à saúde”, diz a Dra. Marcella.
3. Goiaba
A goiaba, fruta tropical nativa da América, é um produto importante no Brasil. Os subprodutos da goiaba podem promover o crescimento de probióticos, produzindo metabólitos benéficos à saúde. Além disso, foi demonstrado que os suplementos de goiaba melhoram a saúde do cólon, reduzem a absorção de gordura e apoiam as atividades metabólicas em ratos.
“As qualidades terapêuticas da goiaba, incluindo polissacarídeos e outros compostos, têm sido exploradas para diversas condições de saúde, como diabetes, obesidade e diarreia, enfatizando seu potencial para modular a microbiota intestinal e conferir benefícios à saúde”, explica a nutróloga.
4. Jabuticaba
Durante o processamento da jabuticaba, fruta brasileira, é produzido um subproduto que, ao ser fermentado, influencia positivamente os micróbios intestinais. “Adicionar casca e sementes de jabuticaba a uma dieta rica em gordura para ratos trouxe benefícios à saúde, como melhor controle de peso e glicose. O extrato da casca ajudou ratos com colite, promovendo um microbioma intestinal mais saudável. Além disso, quando adicionado ao iogurte, o extrato de semente de jabuticaba reduziu a inflamação e melhorou a saúde intestinal em ratos com câncer de cólon, mostrando seu potencial no combate ao câncer e propriedades antioxidantes”, enfatiza a médica.
5. Baru
O baru, do bioma Cerrado, possui subprodutos como polpa e casca. Em estudos, a polpa de baru apresentou potenciais efeitos prebióticos. “A fermentação in vitro mostrou que a polpa de baru aumenta a abundância de bactérias intestinais benéficas. O alto teor de fibras da polpa, juntamente com seus compostos fenólicos, podem ser responsáveis por esses efeitos. Além disso, o óleo de noz de baru apresenta benefícios à saúde, como a redução da formação de trombos em ratos e o aumento da atividade antioxidante em mulheres obesas”, diz a nutróloga.
6. Buriti
A polpa do buriti é uma fruta reconhecida em algumas regiões brasileiras. O seu óleo, especialmente quando combinado com leite fermentado e cepas bacterianas específicas, tem sido estudado pelo seu impacto na microbiota intestinal de jovens adultos.
“A polpa contém fibra alimentar e diversos compostos fenólicos, que podem ser responsáveis por esses efeitos. Além disso, o óleo da polpa de buriti possui propriedades que atenuam os danos oxidativos”, diz a médica.
7. Juçara
A juçara, nativa da Mata Atlântica do Brasil, sofre fermentação, aumentando a abundância relativa de certas bactérias benéficas. Os compostos fenólicos em sua polpa podem influenciar esse equilíbrio microbiano, e a exposição à digestão gastrointestinal simulada altera o conteúdo desses compostos.
Pesquisas sobre a juçara relacionaram seu consumo a benefícios à saúde, como redução do ganho de peso e melhora da tolerância à glicose, de acordo com a Dra. Marcella. Segundo a revisão, um estudo com adultos obesos mostrou que a ingestão de polpa de juçara foi associada a um aumento notável na abundância relativa de bactérias benéficas e ácidos graxos de cadeia curta nas fezes.
8. Maracujá
Quando adicionada ao leite fermentado, a polpa de maracujá melhorou a contagem de células bacterianas e aumentou os níveis de ácido acético e butírico. “A fibra dietética solúvel da fruta, quando testada em ratos com colite, minimizou a perda de peso, reestabeleceu compostos benéficos, diminuiu a inflamação e promoveu a saúde intestinal”, diz a Dra. Marcella.
O maracujá também é fonte de vitamina C, que tem importante ação antioxidante e aumenta a resistência do organismo, pois, como explica a médica, ajuda a aumentar a produção de glóbulos brancos, que fazem parte do sistema imunológico.